Desanuviando

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Ainda não entendi o porquê da reforma gramatical. Tinha ouvido falar nisso faz um tempo, mas achei que não vingaria. Eis que hoje, no meio de uns alongamentos, esticando as pernas, ouvi na televisão quais seriam as mudanças e quando começariam a ser cobradas tais mudanças - quase tive um estiramento. Não acreditei. Aliás, não gosto dessa vontade megalomaníaca de quererem controlar a língua. Já disse neste blog e volto a repetir: o espírito das línguas é indomável. Só quem não entende das línguas - eles não entendem; só fingem que entendem, vou avisando - é que quer mudar isso, tirar aquilo. O que custa estudar um pouquinho a nossa própria língua? Não é só o português que iremos aprender; é lógica também, raciocínio... Por que ter medo disso?

Aí ouvi um sujeito dizer que era para os países de língua portuguesa terem um idioma único. Ah, é? O que direi aos meus putos quando eles me perguntarem por que escrevo "pára" com acento? Vou responder que "na minha época" se escrevia assim, mas daí vieram uns paneleiros filhos-da-mãe que não sabiam nada de língua, como não sabem nada de muita coisa, mas se metem em tudo, e mudaram as regras.

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Me preocupo, ainda, com um outro problema (mais um, só para constar que não dá para unificar as línguas portuguesas do jeito que eles querem): um rapaz muito másculo está no banco e pergunta: Como faço para depositar este dinheiro?, e a atendente, toda solícita, responde: Entra atrás daquela bicha, senhor.

Não quero nem imaginar qual será a reação do rapaz másculo ao ouvir uma estrangeirice dessas!

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Estou fazendo uma disciplina na faculdade com duas portuguesas. Uma delas estava contando que, um dia desses, foi almoçar em um restaurante típico da Minha Aldeia, e o garçom, percebendo que elas eram estrangeiras, soltou-lhes o maior elogio:

- Como vocês falam bem o português.

Elas ficaram muito agradecidas.

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Sinceramente, acho que vou boicotar essas mudanças. Isso! Decidi: estou-me a cagar para essa reforma gramatical.

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Agradecimentos à Joana e à Ana Catarina, novas colegas d'além mar, que me ensinaram palavras importantíssimas da língua portuguesa de seu país!

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Uma curiosidade, já que comecei a falar de Portugal (indiretamente). A cidade do Porto é também conhecida, principalmente em propagandas turísticas, como "A INVICTA". Perguntei às duas (Joana e Ana Catarina, nomes que parecem portugueses mesmo) o que queria dizer "invicta", e elas responderam:

- INVICTA porque nunca foi invadida.

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Então. Tentarei ficar invicta, o máximo que puder, às mudanças gramaticais.

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Portugal não foi à guerra, mas também não se acovardou! (Musiquinha que meu pai cantava quando eu era criança. Não lembro o resto da letra.)

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Um dia, me apresentaram a um garoto muito engraçado e, quando ele disse que se chamava Miguel, todos pegaram no seu pé pelo nome. Disseram que é nome de malandro, de gente que quer dar o golpe, que quer "dar um migué" é a gíria, ao que eu interrompi: é nome de anjo. Mas então foi ele quem corrigiu:

- Anjo, não: Arcanjo!

Daí pegaram ainda mais no pé dele.

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Me lembrei desse episódio porque hoje é o dia que homenageiam o São Miguel Arcanjo, bem como os outros arcanjos, Gabriel e Rafael.

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Aprendi com pessoas de forte espiritualidade (existem poucas pessoas assim, é bem verdade...e me refiro à espiritualidade autêntica; não a certas pirotecnias "filosóficas" de quem fuma maconha) que São Miguel Arcanjo tem o poder de aumentar a nossa luz, deixando-a tão forte que nenhum espírito maligno ousa se aproximar. "Quem tiver olhos que veja", ainda que poucos consigam enxergar isso.

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Sobre os outros arcanjos, sabia pouco sobre eles, mas aí vai uma síntese do que encontrei:

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Algumas pessoas do CHÁ COM JANE AUSTEN descobriram que há um seriado inglês chamado LOST IN AUSTEN. Transcrevo o email que uma das 36 participantes do grupo enviou:

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Quando li este email, fiquei pensando: imagina a reação das leitoras de Orgulho e Preconceito ao encontrarem o Mr. Darcy.

Pois busquei o seriado no youtube e encontrei esta cena - AQUI.

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Bom domingo a todos! Eu ainda tenho que terminar meu livo EMMA. O inglês da digníssima dama não é fácil. Estou a passos de cágado!

Dia 1o. começamos com o queridinho ORGULHO E PRECONCEITO.

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No dia em que dois senhores esclarecidos (ou que assim deveriam ser), ficaram de picuinha (inha mesmo), e no meio de pastas, ARs e "defiros" e "indefiros" sem expressões, a carta de um garoto para a Juíza.

Primeiro, um português acima da média para um garoto estudante de Computação. Muito bem escrito, muito bem argumentado. (Minha colega disse que viu quando ele escreveu). Mas o que mais me chamou a atenção, mais até do que a escrita perfeita, foi o pedido sincero e pungente à Juíza, para que ela adiasse a audiência.

O motivo é que a mãe dele estava com suspeita de câncer, e o resultado dos exames sairia no mesmo dia da sessão marcada.

Então, a carta, de apenas uma página, solicitava o adiamento da audiência, pois o rapaz queria estar perto da mãe (que morava em outra cidade) quando ela recebesse o resultado. Queria estar com ela, para consolar na hora da má notícia. E nas entrelinhas, vislumbrei a maturidade forçada dos filhos que se tornam pais dos próprios pais. O garoto ainda acrescentava: embora aquele processo judicial lhe fosse importante, a situação familiar era muito mais.

Fiquei comovida. Folheei mais o processo e encontrei o formal "defiro" da Juíza, pedindo para que a nova data fosse marcada em momento oportuno. (Embora por trás da formalidade, eu tenha intuído a mesma comoção que sentira.)

Pois hoje era "a nova data". Fiquei tão tocada por aquela carta, que quis ver quem era o garoto. Daquela escrita madura e sincera, apareceu um garoto com rosto muito jovem e sereno, bem alto e bem magro. Passei por ele só espiando, sem dizer nada, mas então ele veio na minha direção e me pediu para confirmar se havia chegado no horário certo. Disse que "sim" e, como não havia mais ninguém por perto, perguntei baixinho:

- Me desculpa perguntar, mas é que vi o seu processo e... sua mãe está melhor?

E a resposta, aliviada:

- Sim, está. Foi só um nódulo que já está sendo tratado, graças a Deus. - E abriu um sorriso de garoto muito novo, mas que agora eu sabia que tinha um espírito muito amadurecido, acima da média, como acima da média era a sua escrita.

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Também fiquei aliviada e voltei para o meu trabalho. Os processos continuaram frios, os ARs também, mas o momento ficou um pouco mais sublime, como quando, depois de um momento temeroso do porvir, recebemos uma boa notícia.

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(Me perguntaram o que é AR. Explico: se não estou enganada (95% de certeza), AR quer dizer "aviso de recebimento". É a carta que as pessoas recebem quando têm que comparecer ao forum, ao tribunal etc. Elas recebem a carta e assinam. Isso mostra que elas já estão avisadas do compromisso.)

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Pessoal, como tem gente lendo os livros da Jane Austen em português, tivemos que mudar a ordem de leitura dos livros, pois MANSFIELD PARK e NORTHANGER ABBEY são muito difíceis de serem encontrados.

Então, a nova ordem é:

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- EMMA (agosto/08 e setembro/08)

- ORGULHO E PRECONCEITO (outubro/08 e novembro/08)

- RAZÃO E SENSIBILIDADE (dezembro/08 e janeiro/09)

- PERSUASÃO (fevereiro/09 e março/09)

- NORTHANGER ABBEY (abril/09 e maio/09)

- MANSFIELD PARK (junho/09 e julho/09)

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Sobre essa mudança, houve comemorações, pois sempre é uma alegria reler ORGULHO E PRECONCEITO.

E sobre o CHÁ em si, já estamos sentindo os efeitos da Jane sobre nós. Leiam alguns depoimentos:

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Gente, eu estou um pouco adiantada. Como na semana passada não havia sido definida a nova ordem, comecei a ler Persuasão e adivinhem: já terminei. Comecei terça e acabei domingo. E até vi o filme com a Amanda Root ( Muito legal!!!) Pra vcs verem o que a Jane faz comigo. Estou cheia de trabalhos para fazer, provas marcadas e não conseguia tirar os olhos do livro. (depoimento de uma viciada em Jane Austen)

Conheci Jane Austen com o filme Razão e Sensibilidade faz uns 3 anos,minha mãe adorava o filme mas não achava para comprar, quando fui procurar a respeito do mesmo tomei conhecimento dos livros e outros filmes, não teve jeito, virei mega fã de Jane Austen!! (depoimento de uma viciada que entrou nessa vida por causa da mãe)

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Agora estou preocupada, pois, se Emma já nos deixou assim, imaginem o que será de nós com ORGULHO E PRECONCEITO?!?

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Fiquei mais de sete dias sem internet (da NET, para que todos saibam!). É só bater um Ventinho Sul, que a internet (da NET) fica fora do ar. E como só tem ventado...

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O CHÁ COM JANE AUSTEN já conta com 34 participantes. Muitos fãs da Jane Austen pelo Brasil, indeed. Uma das últimas pessoas que entrou é de Salvador. E uma outra, não lembro de onde é, mas tinha um "mini-clube" de leitura da Jane Austen com as irmãs. Que maravilha, né?! Só me pergunto como elas faziam para ler o mesmo romance. Cada uma tinha o seu exemplar ou cada uma tinha um horário determinado para ler o único exemplar da casa?

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A princípio, reclamamos das futilidades de EMMA, mas, agora, eu particularmente trocaria algumas conversas que ouço por aí pelos longos diálogos de EMMA & cia. Se é para falar de futilidade, ao menos seja com classe!

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E mudando de assunto, há pessoas que ainda não perceberam que quando começamos a falar mal dos outros (ainda mais apontando defeitos, sejam eles físicos, psicológicos etc), nossos próprios defeitos se ampliam. E se, por alguma misericórdia alheia, não são os outros que os notam, somos nós que passamos a percebê-los, e tratamos de escondê-los, a percebê-los e escondê-los...Até que terminamos por escondermos a nós mesmos (quando já não estivermos ainda mais encolhidos que o nosso espírito), só por medo de encontrar pessoas com língua igual à nossa. Isso é o que chamo de "ser vítima do próprio veneno". Capice?

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Sobre a apresentação de dança flamenca n'A MINHA ALDEIA, foi linda! Só houve um porém. Mas comento outro dia.

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(*) Certa vez, entrei em uma loja cuja dona se chamava Brígida. Quando a vi, notei que ela era dessas pessoas esotéricas. Também, com esse nome, pensei com os meus botões. Então começamos a conversar, e disse para ela que Brígida é nome de bruxa (e aqui, um parêntese: quando falo "bruxa", na maioria das vezes é algo positivo. Xingamento é chamar uma chata de bruxa - xingamento para as bruxas, claro!, que não têm culpa de as chatas serem chatas. Mas voltando...). A moça confirmou: Brígida é nome de bruxa, e eu sou uma! Sou wicca! Eu ri e disse que na minha família não tem nenhuma wicca, mas sei que todas as mulheres são bruxas...Quando falei isso, a Brígida meio que entrou em transe e olhou bem nos meus olhos. Fiquei um pouco desconcertada com o jeito com que ela me olhou, mas daí ela disse:

- Engraçado, mas não vejo uma bruxa em você; estou vendo é uma cigana.

- Cigana?!, comecei a rir. Logo eu que desvio das ciganas que insistem para ler as nossas mãos na Praça...

- É, mas tem uma cigana em você, pode ter certeza.

Saí de lá meio decepcionada por não ter uma bruxa, mas, paciência, era só uma Brígida falando coisas estranhas.

Passados uns meses, conversando com uma feirante do centro, entrou na conversa uma mística que nunca tinha visto na vida e me disse:

- Há uma cigana em vc! E ela é espanhola!

Repararam no detalhe? Além de cigana, é espanhola! Olé! Que coisa boa! Espero que ela me leve pra Espanha!, brinquei com a moça desconhecida.

Daí ela insistiu:

- Aposto que você tem alguma imagem de Santa Sara (a santa dos ciganos) por perto.

Eu respondi que não, mas daí me lembrei! A melhor amiga da minha mãe deu uma imagem de madeira da Santa Sara para ela, por a minha mãe ter o mesmo nome...

Passado esse episódio, uma terceira mulher, que também tem uns dons que fogem do terreno, me disse o mesmo: cigana e espanhola!

Então, como coincidências têm um limite para que a gente não dê importância, três vezes já é demais. Agora, estamos combinados: tenho um espírito cigano, que veio direto da Espanha! Olé!

E para fazer jus a esse espírito - pois espíritu gitano que se preze vive a dança flamenca -, já comprei o meu ingresso para o espetáculo no primeiro dia de vendas!

Alguém me empresta a mão para eu ler a sorte?

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A Raquel, dona do site sobre a Jane Austen(**), de que já lhes falei, fez um comentário bem interessante a respeito do livro EMMA. Mas antes, conto umas coisinhas que comentaram no grupo:

- no começo da leitura desse livro, os que o estavam lendo pela primeira vez (como eu), acharam EMMA meio futilzinha. Era só casamento daqui, casamento dali. As preocupações de EMMA se resumiam a isso. Uma leitora que já leu esse livro se pronunciou: a personagem Emma é a mais humana de suas heroínas, e: em suma, o livro Emma, ao contrário do que dizem sobre ele ser o mais fraco (aliás o filme sim foi muito fraco), é um dos mais ricos se levarmos em conta sua humanidade. Depois, uma outra leitora disse o seguinte: Sobre alguns comentários que li sobre Emma até agora no grupo, sobre ser um livro mais "fútil", etc., queria observar que o crítico Harold Bloom, um dos mais respeitados no mundo, considera Emma a obra-prima da Jane.

Tudo isso, devo lhes dizer, deu mais ânimo para prosseguirmos com a leitura de EMMA. E então, a Raquel, que já tinha lido EMMA e não tinha gostado tanto como gostou dos outros romances, disse que ia dar uma nova chance a essa heroína. E para completar, começou a ler duas traduções ao mesmo tempo: uma do Ivo Barroso e outra da Therezinha M. Deutsch. Com isso, e vendo o trabalho que os dois tradutores tiveram, bem como seus felizes (e algumas vezes, tristes) intentos, ela chegou a esta conclusão: Volto para leitura de Emma, que começo finalmente a perceber e apreciar como a obra mais elaborada de Jane Austen.

E para completar, ainda temos o comentário da própria Jane Austen, de que ela sabia que ninguém gostaria dessa personagem - só ela.

Então estamos assim: EMMA, a personagem, nos desconcerta, pois queremos vê-la mudando; sabemos que, apesar de uma certa futilidade, ela tem boa índole. E estamos descobrindo esses detalhes, e chegando a essas conclusões, através de uma escrita perfeita, impecável, sutil, irônica, divertida. Conseguem captar nosso espírito enquanto lemos esse livro e trocamos idéias sobre ele?

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(*) CHÁ COM JANE AUSTEN.

(**) http://janeausten.com.br/

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Ah, e começamos a semana com 29 participantes. Há muitos admiradores de Jane Austen por aí...

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Faz uns meses, ela leu em uma revista de consultório que o chá de alecrim é bom para diversas coisas: despertar a mente, rejuvenescer, dar ânimo e afastar a tristeza (e, portanto, o fato de a palavra "alecrim" nos lembrar "alegria" não seria em vão).

Ela contou isso para ele, que é meio cético e nunca foi de tomar chá. E o assunto morreu.

Mas, recentemente, ela comprou o chá e falou em voz alta que o prepararia, enquanto ele lia o jornal meio cabisbaixo.

E para sua surpresa, ele perguntou:

- É o chá da alegria?

Ela respondeu que sim. Ao que ele disse:

- Vou querer.

Ela então foi até a cozinha, preparou o chá como quem participa de uma liturgia, serviu uma xícara para ela e outra para ele. Mas antes de entregar a dele, deu-lhe um abraço forte. Surpreso com essa atitude, ele largou o jornal no chão e também a abraçou - porque abraço mesmo, para ser completo, precisa dos dois. Ficaram tanto tempo assim, que o chá esfriou. Mas nem perceberam. Na hora de o tomar, apenas comentaram sobre o cheiro de sagrado que o alecrim exalara no ar.

Desde então, todos os dias tem chá de alegria na casa deles.

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Fila imensa no banco, e apenas um guichê para atender os clientes. De repente, um velhinho bem serelepe foi passando por todos nós, dizendo:

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-Sou velhinho, sou velhinho! Vou na frente!

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Metade da fila se mordeu de raiva; a outra, se matou de rir. Eu estava nessa última metade, pensando com os meus botões: Um dia vou fazer o mesmo!

Todos os dias, quando vou ao trabalho, como já me acostumei a pegar o ônibus no mesmo horário, acabo indo com as mesmas pessoas. Dentre elas, há uma mãe com uma filhinha que sempre me chamam a atenção. Primeiro porque a mãe tem o rosto da Fanny Ardant. É muito bonita e, mais ainda, tem jeito de mãe - nada daquelas mães que tentam se afastar da imagem de mãe! Ela tem uma postura que, não sei bem dizer, mas me parece nobre, apesar de estar sempre correndo com a filha para alcançar o ônibus, e de estar carregando sua bolsa, a lancheira e a mochila da filha. Segundo porque a filha é branca, branca, branca, e descobri que é xará da minha mãe - até a escrita do nome é igual, como vi pelo adesivo na lancheira.

Quando as duas entram no ônibus, a mãe termina de pentear a filha e, por a menina ser muito alva, passa filtro solar em seu rosto.

Durante o trajeto, a mãe acaba se sentando no lugar onde pega mais sol e vai tricotando - literalmente! Coisa que raramente vejo por aí... A filha vai soltando os nós da linha e contando orgulhosa para a mãe quantos nós já desfez.

Quando estão para chegar no ponto - elas descem antes de mim -, a mãe alerta:

- Não corre!

Mas não adianta: assim que a menina desce, sai correndo na frente, se matando de rir por ver a mãe atrás, chamando-a de volta.

Só que hoje a cena se alterou um pouco. A mãe continuou carregando bolsa, mochila e lancheira, passou filtro solar no rosto da filha, já dentro do ônibus, mas, no momento em que o ônibus se aproximava do ponto, a mãe não falou nada sobre não correr, e, por um mistério, quando a garotinha desceu, ficou parada, esperando a mãe descer toda carregada.

Então, surpresa! Assim que a mãe desceu, foi ela quem saiu correndo na frente da filha, se matando de rir. E a filha, correndo atrás, só gritava:

- Sua danada! Volta aqui!

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Quero ver amanhã qual das duas vai sair correndo primeiro.

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Está no site da Raquel (http://janeausten.com.br/):

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Saiu hoje, no Caderno G Idéias do jornal Gazeta do Povo de Curitiba, extensa matéria sobre Jane Austen.
A matéria inclui artigo de Liana Leão, entrevista com Renata Colasante (ambas professoras) e pequeno trecho da entrevista que concedi a jornalista Luciana Romagnolli.
Uma boa notícia – e melhor ainda por estar disponível para leitura online.

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Jane Austen
A razão vence o sentimento
Inspiração para filmes contemporâneos, a obra de Jane Austen não se restringe a histórias de amor

Publicado em 30/08/2008 Luciana Romagnolli
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“Uma mulher em especial, se tiver o infortúnio de algo saber, deve escondê-lo o tanto quanto puder”, escreveu Jane Austen (1775-1817), não sem ironia, a certa altura do romance gótico A Abadia de Northanger, publicado postumamente em 1817.
O contexto histórico que originou semelhante aforismo é o mesmo que faria com que a própria autora se escondesse sob uma assinatura anônima, by a lady (ou “por uma dama”), ao publicar seu primeiro livro, Razão e Sensibilidade (1811).
A passagem de dois séculos tornou distante a desfavorável condição feminina sob a qual a mais jovem das senhoritas Austen – assim como suas contemporâneas – vivia, confinada ao espaço privado do lar e sujeita a um casamento como garantia de sustento e aceitação social. A obra da autora inglesa, contudo, não se perdeu na História. Tanto que é mais uma vez inspiração para o cinema atual, em dois filmes lançados no ano passado, que chegam com atraso ao país.
O primeiro deles, O Clube da Leitura de Jane Austen (de Robin Swicord), lançado em junho, diretamente em DVD, investe no universo literário da autora para tratar de dramas amorosos contemporâneos. É mais arriscada a proposta de Amor e Inocência (Becoming Jane ou “Tornando-se Jane”, em tradução livre), cujo lançamento em DVD está previsto para este segundo semestre. O longa-metragem de Julian Jarrold, protagonizado por Anne Hathaway (de O Diabo Veste Prada), é uma biografia romanceada da juventude da autora inglesa. Arriscada, porque são raras as informações de fontes confiáveis sobre a curta vida da escritora que nunca se casou. O que não impede o roteiro de alçar Tom Lefroy (personagem de James McAvoy) – de quem, em cartas à irmã Cassandra, Jane fala como um flerte sem maiores conseqüências – à posição de grande amor da sua vida.

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