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terça-feira, setembro 30, 2003

Voltando ao CICLO TOQUINHO:

Já que ontem o texto tinha a ver com a amizade, falemos um pouco dela na vida de Toquinho.

Esse músico tem amigos (famosos e não famosos) de longa data. Um deles é o Chico Buarque, de quem é amigo desde os 17 anos.

Um outro grande amigo de Toquinho foi o também inspirado Vinicius de Moraes. E essa amizade, além de contar com o carinho de um pelo outro, contribuiu com a música popular brasileira: ambos criaram cerca de 120 canções

Por exemplo, A CASA (que todos devem ter ouvido e cantado quando eram crianças), foi escrita pelo Vinicius, mas cantada e tornada famosa pelo TOQUINHO.

A Casa (Vinicius de Moraes)

Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.


Mas voltando à "amizade", uma das canções mais bonitas de Toquinho foi a que ele compôs para o seu amigo e primeiro professor de violão, Paulinho Nogueira. Vejam o que vocês acham:

CHORO CHORADO PARA PAULINHO NOGUEIRA

Toquinho - Paulinho Nogueira - Vinícius de Moraes

Tanta saudade antiga,
Tanta recordação.
O toque paciente
De tua mão amiga
Ensinando os caminhos,
Corrigindo os defeitos,
Dando todos os jeitos
Prás notas brotarem do meu violão.

Ah, como lembro ainda
Cheio de gratidão:
A hora entardecente,
A nostalgia infinda
Do modesto ambiente
Da casinha da praça,
E eu em estado de graça
De estar aprendendo a tocar violão.

E hoje, nós dois,
Tempos depois,
Damos com nova emoção
Um novo aperto de mão
Neste chorinho chorado juntos,
E que tomara renasça em muitos.
Pois a maior alegria
É chorar em parceria
Num chorinho que é só coração.
E relembrar que o passado
Vive num choro chorado
Pelo teu e o meu violão

segunda-feira, setembro 29, 2003

Interrompendo o CICLO TOQUINHO para postar o texto para OS VIRAMUNDOS (www.osviramundos.hpg.ig.com.br). (Amanhã tem mais Toquinho!)

NUMA NOITE DE SÁBADO DE 2023 (ou: continuação de NUMA NOITE DE SÁBADO, do Sanderson – www.sandersoncs.blogspot.com)

José levantou-se e foi embora. Os demais, cansados, seguiram o seu exemplo. Os garçons limparam as mesas, varreram o chão e apagaram as luzes do bar. Fora firmado um acordo velado de que não haveria mais encontros aos sábados. Não haveria mais encontros.

Cada um desprendeu-se do elo que o unia ao grupo e os cinco seguiram cinco caminhos diferentes.

Mas pacto de amizade é eterno e, um dia, no futuro, seus caminhos convergirão a um mesmo ponto. Um ponto situado numa noite de sábado de 2023...

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José, em uma viagem de negócios àquela cidade de sua juventude, passou pelo bar em que costumava encontrar-se rotineiramente com os amigos.

O dia estava nublado, com nuvens como se guardassem lembranças e saudades. E José, nostálgico dos tempos antigos, resolveu marcar um reencontro com os amigos.

Os outros quatro permaceram na cidade por esses anos, embora, entre si, não mantivessem contato. José teve trabalho para localizá-los, mas, quando a intenção é nobre, as coisas conspiram à favor.

Foi-se marcado o encontro: sábado à noite.

José chegou primeiro e escolheu a mesa localizada no canto onde eles se sentavam.

Paulo e João chegaram juntos, com os rostos sérios.

Ana foi a seguinte. Parou um instante na entrada, tentando reconhecê-los, mas logo os avistou.

Finalmente apareceu Pedro e sentou-se à mesa com os outros.

Há vinte anos que eles não mais se reuniam. Há vinte anos que um não sabia do
outro. E tanto tempo sem se ver, eram normais uma reserva e um certo desconforto.

Começaram a conversar sobre o presente, mas entre uma rodada e outra de chope, o assunto ia recuando no tempo e as lembranças, aflorando. A conversa ficava mais solta, os cinco, mais à vontade e os sorrisos mais abertos e espontâneos. Os olhos lubrificavam-se daquele antigo brilho da juventude.

Os cinco voltavam a ser amigos e relembravam, animados, todos os assuntos rotineiros da época. Falavam tanto, conversavam tanto, que era como se tudo ao redor se cristalizasse e somente eles continuassem vivendo e revivendo cinco histórias e uma história de cinco vidas.

E, conversa alegre, conversa alta, nem perceberam a única música de fundo do bar: uma música brega, bem brega, mas que falava do efêmero e do eterno...

domingo, setembro 28, 2003

CICLO TOQUINHO

Em uma de suas viagens, Toquinho leu esta frase pixada num muro:

"SE O AMOR É FANTASIA,
EU ME ENCONTRO ULTIMAMENTE
EM PLENO CARNAVAL"

Ele gostou tanto que acabou compondo a música:

ESCRAVO DA ALEGRIA
Toquinho - Mutinho

E eu que andava nessa escuridão,
De repente foi me acontecer.
Me roubou o sono e a solidão,
Me mostrou o que eu temia ver.
Sem pedir licença nem perdão,
Veio louca pra me enlouquecer.

Vou dormir querendo despertar,
Pra depois de novo conviver
Com essa luz que veio me habitar,
Com esse fogo que me faz arder.
Me dá medo e vem me encorajar,
Fatalmente me fará sofrer.

Ando escravo da alegria.
Hoje em dia, minha gente,
Isso não é normal.
Se o amor é fantasia,
Eu me encontro ultimamente
Em pleno carnaval.

sábado, setembro 27, 2003

CICLO TOQUINHO

Esta música, Toquinho a compôs quando sua esposa estava grávida. Foi escrita para a filha que iria nascer.

O CADERNO
Toquinho - Mutinho

Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco até o be-a-bá.
Em todos os desenhos coloridos vou estar:
A casa, a montanha, duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel.

Sou eu que vou ser seu colega,
Seus problemas ajudar a resolver.
Te acompanhar nas provas bimestrais, você vai ver.
Serei de você confidente fiel,
Se seu pranto molhar meu papel.

Sou eu que vou ser seu amigo,
Vou lhe dar abrigo, se você quiser.
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel.

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado, se lhe dá prazer.
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer.
Só peço a você um favor, se puder:
Não me esqueça num canto qualquer.

sexta-feira, setembro 26, 2003

*o GRANDE Toquinho*

Ouvir Toquinho é como estar numa rede, sentindo a brisa do mar e bebendo água de coco (!!).

É compreensí­vel que eu faça essa imagem numa sexta-feira à  noite, por dois motivos: foi-se mais uma semana de labuta (!) e, hoje, quando voltei para casa, me "esbarrei" com um antigo CD do Toquinho, recordando o quão "desanuviando" esse músico é.

Por causa disso, farei um "ciclo Toquinho", neste blog, exibindo algumas de suas canções e umas curiosidades.

Para começar - e adiantar o clima de final de semana! -, uma de suas músicas mais famosas...
(NOTA: Atenção ao oitavo verso...hum...)

TARDE EM ITAPUÃ
(Toquinho - Viní­cius de Moraes)

Um velho calção de banho,
O dia pra vadiar.
Um mar que não tem tamanho,
E um arco-íris no ar.

Depois, na Praça Caymmi,
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco, é bom.

Passar uma tarde em Itapuã,
Ao sol que arde em Itapuã.
Ouvindo o mar de Itapuã,
Falar de amor em Itapuã.

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha,
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha.

E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar,
Bem devagar ir sentindo
A terra toda rodar, é bom.

Passar uma tarde em Itapuã...

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz,
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais.

E nos espaços serenos,
Sem ontem nem amanhã,
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã, é bom



quinta-feira, setembro 25, 2003

Nada do que se orgulhar

Se boa ação demanda boa vontade, então hoje cometi uma péssima ação. Ajudei, a contragosto, um irmão a limpar uma porcaria. (Nem direi que "porcaria" foi essa para não "sujar" o Desanuviando).

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Vontades...

Hoje me deu uma vontade louca de estudar física e matemática.

Melhor fazer como o baiano: sentar e deixar a vontade passar!! (essa é pra rir!)

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Dúvida....

Por que será que quando senhores com mais de 60 anos se reúnem para um churrasco eles, inevitavelmente, cantam "Amélia é que faz comida boa..."?

domingo, setembro 21, 2003

CASOS VERÍDICOS

Ele era pernambucano e, quando adulto, morou algum tempo em Paris. O que mais chamou sua atenção na capital francesa foi a falta de comunicação entre estranhos na rua, no ônibus, no banco...

Sendo brasileiro e acostumado a "puxar papo" com quem quer que estivesse ao seu lado, estranhou muito esse hábito europeu, mas depois gostou; viu que não havia motivos para conversar com quem não conhecesse.

No entanto, quando voltou para sua cidade, Recife, com uma semana de Brasil, foi ao banco e teve que enfrentar uma fila.

À sua frente havia um homem inquieto. Virava-se para trás, olhava as pessoas ao seu redor, parecia querer falar algo. O pernambucano que recém chegara da França, desconfiando que o homem irrequieto iria puxar conversa, tentou despistar, olhando o relógio.

Mas não adiantou. Lá pelas tantas o homem da frente virou-se para trás, tocou-lhe o braço e disse:

- Preciso desabafar: não agüento mais minha sogra.

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O engenheiro brasileiro viajou para Portugal a fim de estudar o projeto de uma ponte.

Chegando a Lisboa, encontrou-se com um engenheiro português, que lhe mostrou uma ponte bonita e moderna.

O brasileiro, admirado, exclamou:

- Minha nossa, até barco grande passa debaixo dela.

E o português, muito sério, o informou:

- E pequeno também.

sábado, setembro 20, 2003

RESULTADO DA SAUDADE...

No dia 22 de agosto (ver o post desse dia), propus um desafio: escolher o autor que melhor definiu a saudade.

Pois bem, muitos confessaram achar difícil o desafio. Apenas um leitor percebeu que, de fato, quem define a saudade é Tomás de Aquino. Mas, ainda assim, deixei o poeminha, pois, a primeira reação ao lê-lo é pensar "nossa, isso é a saudade!" e, portanto, mesmo explicando como "funciona" esse sentimento pode ser uma espécie de definição - pelo menos numa primeira leitura.

Mas sem enrolação, vamos aos resultados:

16% votaram no poema de João do Rio. Chegaram a dizer: "gostei mais da singeleza com que o poeta tratou da saudade".

84% votaram na definição de Tomás de Aquino. Desses, um leitor disse que até se sentiu tentado a votar no João pela, novamente o adjetivo atribuído, singeleza, mas acabou optando pela exatidão do velho Tomás. Alguns, no entanto, não tiveram dúvidas e disseram que a "saudade" de Aquino está perfeita!

Portanto, o campeão do desafio foi TOMÁS DE AQUINO.

É possível que depois dessa votação muitos comecem a se queixar de saudade assim "estou sentindo uma dor deleitável, que me produz uma recordação daquilo que amo e me faz perceber o amor daquilo por cuja ausência...". Também é provável que nada disso ocorra, mas a saudade continuará existindo e nós continuaremos a sentí-la.

Para o final de semana, ainda falando de SAUDADE, segue o verso de uma música que nunca ouvi, mas é uma gracinha:

"DAS LEMBRANÇAS QUE EU TRAGO NA VIDA VOCÊ É A SAUDADE QUE EU GOSTO DE TER" (Isolda)

sexta-feira, setembro 19, 2003

HOMENS BONITOS

Marcello Anthony tinha tudo para ser um dos homens (públicos) mais bonitos do Brasil, mas quando ele começa a falar transmite "tanta" confiança disso que perde a graça. É como se você o encontrasse na rua e pudesse conversar com ele. Por trás de cada frase dele, cada gesto, há aquela mensagem subliminar "eu sou bonito". E então, na conversa, ele só falasse "eu sou bonito, eu sou bonito, eu sou bonito...". Você sai um pouquinho para tomar um café e ele continua "eu sou bonito, eu sou bonito, eu sou bonito...". Você volta e ele, sem ter percebido a sua ausência, ainda continua "eu sou bonito, eu sou bonito, eu sou bonito...".

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Já deixei este poema no Forum do Viramundos (www.osviramundos.hpg.ig.com.br). É do maranhense Ferreira Gullar.

Narciso e Narciso (Ferreira Gullar)

Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira.
Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é
como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.
E se amam mentindo
no fingimento que é necessidade
e assim
mais verdadeiro que a verdade.
Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado
- e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora
se odiando.
O espelho
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam
que o inferno de Narciso
é ver que o admiravam de mentira.

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Em compensação... qual é a mulher que, de fato, aprende a cozinhar com o padeiro-pão (ou "broa", como diria minha avó!) Olivier Anquier?

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E, claro: FELIZ ANIVERSÁRIO ao nosso querido editor d' OS VIRAMUNDOS!!

quinta-feira, setembro 18, 2003

Futuramente este poema estará no Delírios d'OS VIRAMUNDOS. Enquanto isso, digam o que vcs acharam. (Nota: Não fui eu que escrevi.)

Véu negro

O som do mar,
de noite ou de dia,
cantava e chorava
a carta que dizia:

"Foras um guerreiro
que sem asas voou,
e, em seu final suspiro,
de sua boca arrancou

um grito que estremecia
corações apartados,
donzelas perdidas
em seus amores frustrados.

E em trágica melodia,
esse grito eloqüente,
a frase repetia:
- Eu te amo, eu te amo."

(Autor: a ser revelado)

quarta-feira, setembro 17, 2003

Não lembro se vi em um filme ou se li em um livro quando era criança, mas esta cena hoje me veio à cabeça: o pai, no leito de morte, chama um filho de cada vez ao quarto e diz (sim, para cada um!)“De todos, você é o meu filho predileto. Cuide bem dos demais”. Cada filho sente-se orgulhoso, mas nenhum comenta nada com o outro. Um dia, o pai já falecido, eles se reúnem e um revela o que o pai lhe havia dito. Obviamente, os outros também contam. E, novamente, não lembro qual foi a reação de cada um ao saber que o outro também era “o predileto”. Por favor, se alguém sabe do que estou falando e souber de onde é esta cena, me diga o nome da história e qual foi a reação dos filhos. Aguardo!

Bom, mas esse episódio, ou melhor, o que o pai fez é mais ou menos a artimanha do garotinho tímido no colégio. Ele quer se sociabilizar com o resto da turma, mas não sabe como fazer isso. Então, descobre um método infalível: carrega balas no bolso. Funciona assim: aproxima-se um aluno e ele diz “hum, tenho uma bala boa aqui. Você também quer?”. Sendo criança e gostando de bala, o outro aceita contente. Quando este está saindo o garoto tímido pede com ar sigiloso: “Olha, mas não conta para ninguém que eu te dei a bala, pois tenho poucas”. Pronto! O tímido já tem um amigo! E em pouco tempo ele terá um número de amigos diretamente proporcional ao número de balas que carregou no bolso.

Outro caso: é dia Internacional da Mulher e você recebe, pelo celular, uma verdadeira exaltação da mulher. Veio de um amigo e você, sendo do sexo feminino, sente-se a mais importante das pessoas. Logo depois, descobre que outras também receberam a mesma mensagem, da mesma pessoa...

Ainda não cheguei à conclusão se é condenável a atitude do pai, do aluno tímido, do amigo (também pode ser do professor, do vendedor, do artista...) , mas descobrir que não é exclusivo pode ser decepcionante.

Sim, sim, hoje estou possessiva, egoísta e egocêntrica. O palco é meu, só meu, e estou sozinha nele.(Eu e aqueles que também pensam ser donos do palco!).

(P.s.: quanto a namorado, uma atitude por parte dele como a do pai-no-leito-de-morte ou a do garoto-das-balas É CONDENÁVEL!)

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Agora, para quem não gosta nem de ouvir a palavra “política”, au revoir! (Pode voltar amanhã que haverá poesia!)

Você está andando por um campo árido, sem plantas, e, de repente, encontra um trevo de quatro folhas. Por ser raro, você fica contente. Pode até não ligar muito para essas coisas, mas valoriza o achado por saber que muitos gostariam de estar no seu lugar.

Pois agora se imagine em uma faculdade pública, recém saída de uma greve. Você está passando “distraidamente” por um corredor, passa por duas pessoas, e uma diz “Eu sou contra o governo de Cuba”. Ops, volta, volta. Você sabe que isso é raro e alguém que fala isso, numa faculdade federal, é mais raro ainda. Então você finge que está com sede – felizmente os dois resolveram discutir ao lado de um bebedouro – e fica ouvindo, bebendo água, ouvindo. Uma das pessoas – a que se posicionou a favor de Cuba – é a presidente de um grêmio estudantil. Você – por que estou usando “você”? Fui eu que ouvi! -; eu continuo bebendo água; agora começo a encher a garrafinha de água mineral e presto atenção na conversa. A garota do grêmio está recuando nos argumentos e já está apelando para um almoço na lanchonete (“amanhã a gente se encontra na lanchonete e eu te falo sobre a revolução russa, a revolução cubana etc etc”). O outro continua nas suas posições, nocauteando – na maior classe - a pobre estudante. Então aparece o professor deles e ambos se vêem obrigados a interromper a discussão. A minha garrafinha já está transbordando e percebo que também está na hora da minha aula. Mas o garoto-contra-Cuba fica com sede e vai beber água. Não tenho dúvidas: “você é uma peça rara aqui, sabia?”. E a resposta dele (coisa mais rara ainda!): eu sei, sou MONARQUISTA. Não gosto da esquerda, dos “ches” da vida, dos prós-fidel". Então lhe pergunto como havia se tornado um monarquista e, enquanto ele me conta sua história, eu o observo. Cabelo cortado, barba feita, fala com classe, sem recalque político e à vontade com sua ideologia. Quase o vejo em um colete xadrez abotoado, relógio de bolso (com corrente de ouro!) e cachimbo. Ele vai para a sua aula e eu para a minha. Fico contente com esse encontro casual. Esse estudante monarquista é, sem dúvida, uma figura rara.


domingo, setembro 14, 2003

SEM LAMENTOS

Um amigo, apaixonado por Chorinho, contou-me que Pixinguinha fora chamado para se apresentar no Copacabana Palace. No entanto, logo na entrada, foi barrado pelo porteiro - que o "avaliou" pela aparência e não o considerou "digno" daquele hotel luxuoso. O músico acabou entrando pelos fundos e tocando para o público, mas, ainda ressentido com o episódio, ao voltar para casa, compôs LAMENTOS.

Agora imaginem que o Pixinguinha não tenha existido naquela época e tivesse nascido há pouco tempo - e, portanto, somente agora começasse a compor suas canções. Ele é chamado, no ano de 2003, para tocar no Copacabana Palace e, novamente, um porteiro, ao olhar sua aparência, o impedi de entrar. O Pixinguinha de hoje não é como o de ontem, assim como o mundo. O músico, então, se enfurece com o porteiro e ameaça processar o hotel. Pixinguinha volta para casa indignado e, imediatamente, liga para o seu advogado. Em uma semana, o Copacabana Palace está sendo processado, julgado, sendo capa de todos os jornais e revistas. E LAMENTOS jamais é composta. E a música brasileira fica órfã sem ter tido um pai.

sexta-feira, setembro 12, 2003

Esta música é tão "desanuviando" que a deixarei no blog. (Tentem ouvi-la!)
Bom final de semana!

On My Way Home (Enya)

I have been given
One moment from Heaven.
As I am walking
Surrounded by Night,
Stars high above me
Make a wish under moonlight.

On my way home I remember only good days.
I’m on my way home; I can remember every new day.

I move in silence
With each step taken.
Snow falling ‘round me
Like angels in flight.
Far in the distance
Is my wish under moonlight.

On my way home I remember only good days.
On my way home I remember all the best days.
I’m on my way home; I can remember every new day.

Turn it up! Turn it up! Turn it up, up, up! Adieu…
Turn it up! Turn it up! Turn it up, up, up! Adieu…

On my way home I remember only good days. [Turn it up! Turn it up! Turn it up, up, up! Adieu…]
On my way home I remember only good days. [Turn it up! Turn it up! Turn it up, up, up! Adieu…]

quinta-feira, setembro 11, 2003

A SÚPLICA FUNCIONOU!

As nuvens foram se encontrar com o apressado vento (ver “post” do dia 09/09/03) e nós, habitantes desta cidade, o esplendoroso sol e o desinibido céu azul ficamos a ver navios, barcos, pássaros...

( Alguém ainda espalhou que o dia estava lindo e a Lua Cheia, curiosa, veio fazer uma visitinha. Ela não viu sol, não viu pássaros, mas acabou ficando e foi a “estrela” da noite!)

(P.S.: Não encontrei nenhum livro de poemas na rua, mas este dia, por si só, foi todo poesia!!)


quarta-feira, setembro 10, 2003

SERÁ UMA SÚPLICA?

Um dia de chuva-sem-fim e ouço, da minha casa, um operário daquela construção assoviar: OH, SOLE MIO!!

terça-feira, setembro 09, 2003

ENQUANTO UNS CORREM PARA NÃO PERDER O TREM, OUTROS FICAM A VER NAVIOS...

Não sei aonde o vento ia com tanta pressa. Ele nem ao menos parou para me pedir dinheiro emprestado; simplesmente tirou R$ 1,00 da minha carteira e o levou longe... (e eu, imóvel, vi aquela nota voar, como se me acenasse: bye, bye, Rebeca...)

(Quando o vento voltar eu o pego!)

segunda-feira, setembro 08, 2003

UM POUCO MAIS DE "ADMIRÁVEL MUNDO NOVO" (para começar a semana):

Uma fala do livro:

"- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.!"

domingo, setembro 07, 2003

BRAVE NEW WORLD, BRAVE NEW WORLD...

Certos livros deveriam estar permanentemente expostos nas vitrines das livrarias. Fariam um bem público ou, pelo menos, agiriam como “O MORCEGO” (*) do Augusto dos Anjos.

Um desses livros é o ADMIRÁVEL MUNDO NOVO, de ALDOUS HUXLEY.

Imaginem:

O sujeitinho acende, em pleno shopping, um baseado de “soma”. Mas então, atrás dele estaria a vitrine com o livro exposto. Inexplicavelmente, até esse sujeito chegaria uma voz de gelar a espinha: “BRAVE NEW WORLD, BRAVE NEW WORLD”.
Na melhor das hipóteses, o rapaz teria lido o livro e, entendendo a mensagem, sentiria remorso por fazer aquilo.
No entanto, mesmo que ele não soubesse o que há implícito na mensagem “BRAVE NEW WORLD”, algum pressentimento o impeliria a jogar aquele “soma” fora.


(*) O Morcego

(Augusto dos Anjos)

Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede;
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

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SETE DE SETEMBRO

O pai, muito orgulhoso, disse para os amigos após o desfile do 7 DE SETEMBRO:

- Meu filho foi o que marchou melhor.

Os amigos foram conferir nas gravações: enquanto todos batiam o pé direito quando tocava o bumbo, o filho daquele pai coruja batia o pé esquerdo...

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O filme OPERAÇÃO CUPIDO (versões antiga e nova): uma graça!!

sábado, setembro 06, 2003

Passada a cena que lhes relatei, aparece o protagonista, o jovem Neal Oliver, indeciso sobre a vida, principalmente no que diz respeito à profissão a escolher: seguir a carreira de advogado, como o pai, ou se arriscar como pintor, seu grande sonho. (Já adianto que o filme não tem a ver com o Billy Eliot e o esforço de um artista para se afirmar com seu talento. VIAGEM SEM DESTINO mostra as inusitadas respostas que Neal Oliver encontra durante uma viagem pela misteriosa INTERSTATE 60.

Para não estragar as surpresas de VIAGEM SEM DESTINO, contarei só mais uma parte: a em que Neal Oliver dá carona a uma mãe desesperada em busca do filho – provavelmente foragido numa cidade em que há “rave” e uma droga sintética legalizada, chamada “euforia” (tsc, tsc).

Ambos entram na “rave” – festa em que “euforia” é distribuída - e encontram o garoto. Como todos na festa, o rapaz também está em êxtase (!), sentindo-se a pessoa mais “feliz” do mundo. Por isso, recusa-se a voltar para casa.

A mãe, desolada, e Neal vão para a delegacia e o policial explica, cinicamente, qual é o esquema da cidade: os jovens que passam a usar a droga ficam a noite inteira nas “raves”. Para obter mais “euforia” – a própria cidade encarrega-se de fornecê-la - , eles precisam trabalhar. Então, completamente dopados (ou domesticados, o que seja), os usuários da “euforia”, com coleiras, durante o dia, varrem as ruas da cidade, limpam os banheiros públicos etc. (E se desobedecem alguma ordem ou se se comportam mal, ficam presos no zoológico.)

Apesar de um pouco teatral, é uma cena boa. E não preciso dizer o que falam certos emails, após uma fábula ou narração: “A vida é assim. Quantas vezes nós blá-blá-blá...”. Já está óbvio.

Mas comentei essa parte do filme, pois me lembrei do livro ADMIRÁVEL MUNDO NOVO e é ele o assunto de amanhã.

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MAIS ESTRADA DA VIDA

Já recebi um email (um dos meus favoritos que circulam por aí) que é mais ou menos assim:

Um rapaz estava dirigindo por uma estrada e poderia dar carona para apenas UMA pessoa.

Ele então passa:
por uma pessoa acidentada, precisando de atendimento;
pela mulher dos seus sonhos;
e por um médico que lhe havia salvado a vida no passado.

Se fosse com você, o que faria? Para que única pessoa daria carona?

Veja qual foi a solução do rapaz:

Ele deu o carro para o médico e o informou sobre o acidentado na estrada.
E ficou a pé...com a mulher da sua vida!

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OK, OK, me empolguei! Lembrei-me de mais uma história com "estrada da vida".

Esta é de um tesouro: o livro MINHA VIDA QUERIDA, de MALBA TAHAN, me presenteado por uma pessoa muito especial.

Chama-se O PASTORZINHO ADORMECIDO e conta a lenda de um pastorzinho que, “vencido pela fadiga (...) deitou-se à sombra de uma grande árvore, à margem da estrada, e dormiu placidamente”.

Para resumir, e sem aquela encantadora (ai, hoje estou muito “adjetivadora”) escrita do Malba Tahan, passaram, por esse pastorzinho:
um rei que, ao vê-lo, pensa em adotá-lo para que seu reino e sua riqueza tenham um herdeiro. Mas, vendo-o tão sereno, o Rei se promete voltar mais tarde. Porém, vai e nunca mais volta;
em seguida, uma formosa princesa que o vê e o elege como seu esposo. Mas o pastorzinho dormia tão tranqüilo que ela teve pena de acordá-lo. Então, assim como o rei, se promete voltar mais tarde, porém, vai e nunca mais volta;
“continua, ainda, o pastor a dormir sob a árvore, quando cruzou a estrada um dos bandidos mais perigosos da região”. Ao deparar-se com o pastorzinho, decide matá-lo. No entanto, ao vê-lo adormecido, desiste da idéia e se promete voltar depois para matá-lo quando estiver acordado e consciente da dor que o punhal lhe causará. E, como o rei e a princesa, vai e nunca mais volta.

O final da história é terminado assim:

“Meus amigos, reparai bem...

Quantas vezes, em meio do turbilhão de vossa existência, não ficastes, como o pastorzinho da lenda, adormecidos à margem da grande estrada da Vida? E de vós também se aproximaram, em certos momentos, sem que pudésseis perceber, a Fortuna, o Amor e a Morte...”


(Ops!, e esse final lembra alguns finais de emails, não é mesmo?!)

quarta-feira, setembro 03, 2003

I WISH...

É uma pena que um filme tão bom quanto VIAGEM SEM DESTINO não tenha passado nos cinemas. Do mesmo inspirado roteirista de DE VOLTA PARA O FUTURO, Bob Gale, o filme conta a história de um jovem ávido por uma uma resposta para a vida.

Tema comum, mas a maneira como a história se desenrola é espetacular.

Há uma espécie de gênio no filme, um homem que realiza os desejos das pessoas. Logo no início, ele está andando de bicicleta por uma rua e passa ao lado de um carro, no momento em que o motorista – o (muito) bonitinho Michael J. Fox – abre a porta, sai de dentro e se esbarra com o ciclista. O gênio, então, sai da bicicleta, se levanta e, mal se afasta dela, passa um caminhão por cima e a amassa. Eis o diálogo que se segue entre os dois:

MICHAEL J. FOX: - Sinto muito. Eu pago.
(e perdendo a gentileza ao notar o celular quebrado no chão): - M #@$!! Que ódio!
Tenho uma reunião de vendas às 11h. Este telefone é minha linha de vida. Droga!

GÊNIO (mais ponderado, apesar de ter perdido a bicicleta): - Tudo acontece por uma razão.

M.J.F.: - Eu não precisava desta M. na minha vida! Não hoje. Não justo hoje.
(e gritando enfurecido): - “I wish this had never happened. I wish had never, I wish had never!!!”

GÊNIO: - É seu desejo? Que isso não tivesse acontecido?

M.J.F: - Pode ter certeza!

GÊNIO: - Concedido!


Então, volta a cena em que o gênio estava pedalando a bicicleta, mas, ao invés de prosseguir e se esbarrar com o personagem de Michael J. Fox, ele pára alguns metros antes do carro. Impassível, assiste ao caminhão passar e atropelar o outro, no momento em que saía do automóvel.

Com ar sensato, o gênio setencia:

- Tem gente que não sabe o que desejar.

(Amanhã falo mais do filme!)

segunda-feira, setembro 01, 2003

Texto da semana para OS VIRAMUNDOS (www.osviramundos.hpg.ig.com.br):

REQUINTE DE CRUELDADE (*)

Aquela galinha amou profundamente. Cada gesto de solidariedade, cada entrega, cada acolhimento, cada sofrimento superado, engrandeceu o seu coração.

Tendo um grande coração, a galinha virou mártir: atraiu, ao mesmo tempo, admiração e fúria de perseguidores.

E perseguida, foi capturada; e em seguida, degolada.

Como amostra da crueldade, expuseram seu coração em público. E os terríveis carrascos o comeram sem piedade e com um pouco de farofa.


(*) por um vegetariano

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